Collegia Fabrorum
Todas as associação humanas surgem porque o homem é um ser sociável, isto é, que ele forma naturalmente associações que possam satisfazer seus anseios, sem necessidade de modelos de associações anteriores. Em razão disso a Maçonaria Moderna não nasceu porque existiram as guildas, nem as guildas nasceram porque existiram os collegia fabrorum. Por mais que consigamos ampliar esta série sempre chegaremos a uma primeira associação que não teve modelos a seguir.Cada associação se distingue de todas as outras pelos fatores sociais que as geraram e pelos laços que unem seus membros. O laço entre os maçons modernos é a fraternidade universal, o laço primeiro entre os homens das guildas foi a defesa de interesses profissionais, o laço entre os associados dos collegia fabrorum foi adoração de uma divindade comum, o anseio por um enterro cerimonioso e a preservação do nome após a morte.
Os Collegia Fabrorum
Por: Irm Ambrósio Peters ( * )
Com relação a este tema temos lido com certa freqüência que os collegia fabrorum teriam sido o modelo e a origem das guildas medievais e assim indiretamente das lojas maçônicas. Na busca de informações observamos que aquela expressão latina significa genericamente ‘”associações de operários”. A expressão correta para “associações de construtores” seria “collegia sructorum” ou “collegia constructorum”.
Quanto á essência e a origem dessas associações encontramos duas amplas pesquisas , a primeira de um professor de história da Universidade de S. Paulo e outra ainda mais completa de um professor da MA – London School of Economics, e delas concluímos que os collegia romanos nunca passaram de um misto de clube social e sociedade funerária sem nenhuma conexão com corporações de oficio.
A segunda pesquisa, a mais completa, informa que na estrutura sócio-econômica do Império Romano em momento algum houve lugar para corporações de ofício do tipo das guildas medievais pois todas as atividades produtivas e comerciais sempre estiveram sob o controle direto do Estado. Todas as profissões ligadas a essas atividades eram hereditárias e além disso qualquer cidadão romano, por mais alto que fosse o seu cargo e por mais longínqua que estivesse a sua província, somente tinha o domínio ou a posse de qualquer bem ou patrimônio enquanto o Estado o permitisse e enquanto permanecesse ligado a sua profissão.
Por exemplo, uma das profissões mais importantes em Roma era a dos padeiros (pistores) pois a distribuição diária do pão era rigidamente controlada pelo Estado. Filho de padeiro seria padeiro para o resto de sua vida, e assim os seus filhos, seus netos, etc. Em algumas profissões, como a dos marinheiros (navicularii), o associado podia deixar seu collegium desde que encontrasse alguém para o seu lugar.
Esta estrutura social dava a Roma o poder de controlar todos os seus súditos e controlar todo o sistema de abastecimento em todo o território imperial. No período republicano a formação dos collegia era incentivada, mas com o império todos os envolvidos com alguma atividade produtiva, comercial, burocrática ou social eram obrigados a pertencer a um collegium.
As grandes obras de construção, como estradas, pontes e edifícios públicos eram executadas por soldados, escravos e libertos e não por collegia de construtores que acompanhassem os exércitos, mesmo porque ninguém podia deixar seu grupo familiar hereditário profissional e se deslocar para outras cidades a não ser que fosse convocado pelo governo central. A livre iniciativa não existia, e era apenas permitida em casos extremos de desabastecimento nacional.
A idéia de que os soldados romanos destruíam as cidades conquistadas não é verdadeira, porque Roma preservava as cidades e suas fortificações intactas para nelas poder instalar suas administrações provinciais e suas forças militares. Houve apenas duas exceções, Cartago e Jerusalém. Cartago foi destruída porque os cartagineses pretendiam destruir Roma e a questão era quem destruiria o outro primeiro. Jerusalém foi destruída porque os judeus nunca se submeteram a Roma e a única forma de destruir a sua resistência foi arrasar Jerusalém e o seu templo.
De outra parte as fortalezas romanas em territórios bárbaros, como na Inglaterra e na Germania por exemplo, eram erguidas com toras pelos próprios soldado auxiliados pelos cidadãos vencidos feitos escravos como era habito romano.
Afirmam historiadores que os collegia romanos desapareceram completamente com a queda da parte ocidental do Império Romano quando as cidades européias cairam uma a uma ante os bárbaros invasores vindos de todos os lados. Possivelmente teriam restado apenas fracos e raros indícios de sua antiga presença na Itália e no Oriente. Ao norte dos Alpes porém nada sobrou de sua estrutura pois toda a Europa Ocidental foi reduzida à barbárie durante a Idade das Trevas.
As primeiras manifestações de corporações de trabalho medievais começaram a aparecer lentamente durante o século VIII tanto no reino de Carlos Magno como no reino da Inglaterra, sendo as notícias mais claras neste país. Mas sua estrutura nenhuma semelhança tinha com a dos collegia dos romanos.
Dos dois trabalhos de pesquisa que mencionamos, a primeira, do professor paulista, mostra ao seu final conclusões cujas premissas não estão entre os dados coletados inclusos no texto. Por exemplo, ele conclui que as catacumbas romanas foram o refugio dos cristãos perseguidos pelos imperadores romanos e que os primeiros cristãos viviam subterraneamente como sociedade secreta.
Mas a verdade não é esta segundo informações do próprio Vaticano, Os primeiros cristãos, opondo-se ao costume romano da cremação dos cadáveres, e para evita-lo usavam as catacumbas como cemitérios para os seus mortos, nelas realizando também outras cerimonias religiosas cristãs. Não há vestígios de que lá tenham vivido. As catacumbas eram conhecidas dos romanos pois eram romanos, os fossores, que as cavavam.
Também os seus trabalhos de pesquisa não contém informações que possam ligar os collegia às guildas medievais, não obstante apresenta isto como conclusão do seu trabalho. O problema a nosso ver está na circunstância de não ter ele levado em consideração a barbarização da Europa além do Alpes nos séculos V ao VII.
Já a segunda pesquisa, do professor londrino, é mais ampla e situa os collegia como um elemento do complexo sistema econômico-administrativo romano e os analisa dentro dos complexos momentos políticos do vasto Império Romano, o que não foi feito pelo pesquisador brasileiro.
Sua conclusão é bastante clara e consciente e ele inicia a exposição de sua conclusão com este parágrafo:
Tornou-se claro nas páginas precedentes que no decurso do século 4º D.C. todos os membros dos collegia e das corporações, desde os mais ricos proprietários de navios até o mais pobre dos artesãos, estavam hereditariamente confinados a sua atividade profissional. Não obstante esse severo confinamento pelo qual o homem e suas posses ficavam atados a sua corporação ou collegium, de um modo geral era impossível a qualquer cidadão escolher seu próprio negócio ou profissão, determinando o Estado que todos deviam ser o que seu pai
fora, e que suas possessões somente seriam suas enquanto as usasse para a finalidade especifica decretada pelo governo.
Não há evidentemente condições de, em um Estado assim organizado, sequer se pudesse pensar em alguma corporação de ofício como possível modelo de uma guilda de ofício medieval.
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O balandrau tem uma história ligada às organizações de ofício — que nós chamamos de Maçonaria Operativa — pois já era usado pelos collegiati, membros dos Collegia Fabrorum romanos, quando se deslocavam pela Europa e norte da África, acompanhando as conquistadoras legiões romanas, para reconstruir o que fosse sendo destruído pela atividade bélica. Também os membros dos Ofícios Francos, dos séculos XIV e XV, costumavam usar um balandrau negro, em seus deslocamentos pela Europa ocidental. Não é, portanto, estranhável a sua presença nos trabalhos maçônicos.
citando José Castelanni.
Também no Egito existiram colegiados com essa característica. Eles se tornaram comuns especialmente entre os adoradores de Ísis. Apuleio de Madaura, historiador do primeiro século antes de Cristo, menciona a existência dessas organizações em datas anteriores ao ano 79 a.C., dando a entender que elas já existiam há vários séculos. Esse historiador refere-se também à organizações semelhantes, formadas por trabalhadores da construção civil e metalúrgicos, sendo encontrado registros da existência dessas instituições em vários territórios de colonização helenica, especialmente na Ásia Menor. Tomando a forma, ora de grupos religiosos, ora de partidos políticos, clubes funerários, grupos culturais, associações profissionais e afins, essas organizações dominaram um vasto aspecto da vida cultural das antigas sociedades.
Assim como ocorreu com a Maçonaria, os Collegia Fabrorum também recolheram a herança simbólica de tradições desaparecidas, a mais notável das quais foi a tradição Etrusca, cuja cosmologia passou ao Império Romano através desses colégios. É interessante ressaltar que os Collegia Fabrorum veneravam muito especialmente ao deus Jano Bifronte, chamado assim porque possuia dois rostos, um que olhava para a esquerda (ao Ocidente, ou lado da escuridão), e outro para a direita (ao Oriente, ou lado da luz. TFA
Politica e Religião eram atividades estreitamente ligadas na vida das antigas cidades. Dada a forma colegiada em que os cultos eram praticados, entende-se porque também o exercício da política acabou se aproveitando dessa formulação.
Mas não só a política e a religião. As pessoas formavam colegiados para defender interesses comuns, para partilhar idéias e crenças, para defesa própria e quaisquer outros assuntos que demandasse organização e participação coletiva. Nessa conformação podemos identificar também a origem dos partidos políticos e grupos de pressão.
Há registros da existência desses colegiados já na época de Péricles, e segundo se infere desses mesmos registros, eles não mantinham uma convivência pacífica com o famoso líder ateniense. Isso é tão verdadeiro que ele emitiu decreto regulamentando a forma e o número dessas fratrias, disciplinando a legislação que já lhes deixara Sólon. Plutarco relata que em 404 a.C. após a vitória de Esparta sobre Atenas, na Guerra do Peloponeso, um grupo formado por essas fratrias derrubou o regime democrático de Atenas e governou a cidade durante um ano. Esse episódio ficou conhecido como o governo dos Trinta Tiranos.
maioria desses colegiados, em princípio, eram confratrias organizadas com o propósito de garantir sepultura digna para os ancestrais. Daí o fato de o direito de propriedade, em Roma, evoluir a partir da luta do clã pelo direito de manter a posse dos seus lugares sagrados, ou seja, o local de sepultura dos antepassados. Essas associações eram conhecidas pelo nome popular de teuinorum collegia, ou grupos funerários. Cada um desenvolvia suas próprias preces e rituais, praticados nos templos familiares, onde se realizavam as exéquias dos mortos e se construía para ele uma rica história de vida, que não raramente se transformava em lenda e objeto de culto do grupo.
Com o tempo, muitos desses grupos contruiam um colum-barium, que era uma espécie de galeria de antepassados famosos, ou mausoléu, no qual se prestava o culto a eles como deuses lares, os famosos manes.
Origem dos Collegiuns
As confratrias gregas evoluíram para um tipo muito peculiar de organização, do qual viria a sair, em certo momento histórico, os chamados Collegia Fabrorum romanos e, mais tarde as associações obreiras conhecidas como Corporações de Ofício, ou guildas.
Isso ocorreu como resultado de um longo processo de adaptação à realidade histórica, cuja descrição não cabe nos limites estreitos deste trabalho, mas é importante ressaltar que a história da sociedade humana e das ações que se promovem para edificá-la não estaria completa sem uma alusão, ainda que de passagem, por esse importante tipo de organização que o mundo antigo produziu.
Essas duas fontes de influência da Maçonaria tiveram, portanto, uma origem comum e não é estranha a similitude de objetivos e a identificação cultural que muitos historiadores enxergam entre as duas instituições.